quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Auto-mar

Venha comigo colocar os pés n'água desta praia
Cecília, o vento virou mar e o mar ventania
Por que insistimos em atravessar mares
mesmo que nossos corpos em caravela deslizem,
se amar tornou-se mar de tormenta e vendavais?
Cecília, por que pretendes pular essa onda?

Percebes como a temperatura do corpo se acalma
quando a ponta dos dedos descobre água a vista
percebes a singularidade da espuma, que flutua
em pleno descobrimento do Mundo Novo que são seus pés
Cecília, por que pretendes mergulhar?

Venha comigo respirar debaixo d'água
Cecília, o ar não suporta o peso do amor
precisa ser fôlego em bolhas e beijos submersos
senão, como mais sentiríamos o peso do mundo
o empuxo das coisas terrenas, a ferrugem dos litorais?

Os tesouros em pérolas só esperam que os alcancemos
Cecília! Segure firme a minha mão
Os perigos do mar são como as imagens do inconsciente
Traumas de navios e sentimentos e naufrágios
E as almas dos marinheiros ou de nós mesmos
Crianças afogadas no borbulhar de medo da superfície

Venha comigo atingir a superfície dos sonhos
acordar num espaço amplo, ilha perdida, qualquer lugar
qualquer lugar que não se saiba onde, quando, apenas quem
quem não sou eu, nem você, seremos nós


ambos descobertos e em descobrimento

Nenhum comentário:

Postar um comentário