abro a janela do escritório
e vejo o palácio antigo
e ainda moderno
por onde andaram poetas
poetas-burocratas
e penso
será preciso estar preso
nos afazeres de Estado
para atingir o estado fértil
de poesia libertária
do espírito
já que o corpo
reitera o escritório
e papéis?
daqui de cima a cidade
anda formiga
corre brinquedo
e a cabeça-coração
voa poesia
onde andam os poetas?
que mistificavam a cidade
os bares, os chopes
onde andam os poetas?
a cidade precisa de vocês
eu preciso de vocês
mas parece que todos morreram
fugiram, não nascem mais poetas?
poetas públicos
poetas de Estado
de terno e gravata
discutindo poesia
na hora do almoço
vejo o palácio antigo
por onde Drummond deve ter escrito
"A Rosa do Povo", e outros
vejo e me sinto só
dentro desse escritório
com olhar-condicionado
que às vezes escangalha
sinto falta daquele tempo
que não vivi
tempo de partido
de homens partidos em dois
poetas/burocratas
redigindo as leis flexíveis da poesia
e fazendo poesia de atos administrativos
devia existir algo no ar
que instigasse esses homens
algum impulso tremendo
alguma poesia
algum claro enigma
alguma libertinagem
algum eu
o tempo devia ser mais amplo
como a arquitetura moderna
do palácio que vejo na janela
o tempo devia fluir sereno
embora para os poetas
essa noção fosse impossível
só há contemporaneidade
os poetas falam no presente
a poesia é no presente
mas sinto saudade nas paredes
vejo fantasmas que aparecem depois
somem, e alguns papéis voando no
vento que o os carros alimentam
vejo os vultos mas eles fogem de mim
é um paradoxo temporal
se eu tocar-lhes
a poesia sofre o risco de desaparecer
assim como cada lambe-lambe
assim como o retrato do Getúlio
o poema-pílula esquecido
em cima da mesa do bar
escrito em guardanapo
não procuro mais a poesia
aprendi com os senhores
procuro os poetas
cadê poetas?
poetas? poetas?
os camelôs estranham
aquele garoto magro e míope
correndo maratona, pulando lixo
e gritando a plenos pulmões:
poetas! poetas!
e mais ali na frente
esbarra num mendigo
que dorme e sonha
com um prato de comida
cai, tomba, aplica o rolamento de judô
quebra o prato do sonho
quebra o aro do óculos
e vê o mundo distorcido
Muito bom, Taiyo.
ResponderExcluirAbraços
Cante poeta, suplica!
ResponderExcluirQue do lugar eterno
a nostalgia nos toma
Faz de conta que é sempre samba
Somos tolos
Tantos
Mas amamos
com tanta força
que nem a covardia nos cala a voz...
Lindo teu canto... ecoe...
sorrisos de um tempo lindo*
lindo,Tayo.
ResponderExcluirEstamos passando nos blogues amigos para convidá-los a participarem da Blogagem Coletiva sobre “INCLUSÃO SOCIAL” que acontecerá no próximo dia 09/03/2009.
Ficaremos muito felizes de poder contar com sua participação!
Se for participar, por gentileza, deixe um recado no blog Esterança.
http://esteranca.blogspot.com
Desde já, agradecemos!
Mari / Ester
Quero, sim, cantar! há pouco escrevia um artigo sobre o estatuto do trabalho do poeta e lamentava a falta de poetas divulgados hoje em dia... mas cada vez que viajo por blogs como o teu, dou um sorriso de canto, na certeza de que eles se ploriferam, não mais por páginas impressas e caras nas estantes das livrarias, mas em sites de livre iniciativa (e em total liberdade) como o teu!
ResponderExcluirParabéns, visitarei com mais freqüência!
Jana
É, meu amigo,... infelizmente, o academicismo, a bajulação, o nepotismo e outras tantas disfunções sociais que trajam de luxo a hipocrisia, ainda são a matéria-prima de muitos falsos 'poetas'.
ResponderExcluirmas a verdadeira poesia segue em frente, ainda que desapercebida.
Grande abraço, POETA!
obrigado, vocês e suas palavras me estimulam a continuar escrevendo, continuar, continuar
ResponderExcluirobrigado
opa! - essa poesia é do tempo que eu tenho saudede.
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