segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Farinha

Tentei pegar a farinha que meus olhos moíam e colocar
no pão nosso de cada dia.

Essa doce farinha, sonolenta, infestada de teias-palavras, meias de aranha, fragmentos completos de ruído.

Eu embebia o que via numa caneca de fronteiras
mesmo sabendo que as linhas eram imaginárias
como o Tratado de Tordesilhas
as léguas
os mares
as léguas...

Dessa forma o amor: amorfo.

Mofo.

Mofo de livro que morre no poema, apodrece no poema.

Tento agora desistir de toda poesia
simplesmente matando o poeta
e parindo falsamente
um feto completamente
vivo.

Olho no seu rosto, meu rosto, pedindo um pouco daquela farinha
babando por aquela farinha; viu:

Ele/eu nem percebe que é para enganar estômago e coração
Ele/eu só quer a hipnose de uma métrica livre e uma rima canção
Ele/eu quer amar o poema entre a saliva e o pensamento

E ler o eu.

3 comentários:

  1. gostei muito embora tenha achado um pouco triste.
    Façã um bem alegre e feliz e me mande por favor.
    Mas, foi bem escrito e bom pra ler, só achei um pocco triste.

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  2. obrigado,
    engraçado, suas palavras, refleti:
    a poesia tem que ser alegre e feliz?
    concordo com um grande poeta que disse que a beleza tem um pouco de tristeza também, sem isso não é beleza...

    a beleza é um pouco triste, não acha?

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  3. Acho que tem beleza nas coisas tristes, e graças aos artistas podemos vê-las.
    Adjetivo que cabe em muitos sentimentos; Que está contida a vida, e não a vida está contida. Sei lá, obras de arte não são feitas sob encomenda. São presentes que não se olham os dentes...
    Abraços

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