quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Onde?


abro a janela do escritório

e vejo o palácio antigo

e ainda moderno

por onde andaram poetas

poetas-burocratas

e penso


será preciso estar preso

nos afazeres de Estado

para atingir o estado fértil

de poesia libertária

do espírito

já que o corpo

reitera o escritório

e papéis?


daqui de cima a cidade

anda formiga

corre brinquedo

e a cabeça-coração

voa poesia


onde andam os poetas?

que mistificavam a cidade

os bares, os chopes

onde andam os poetas?

a cidade precisa de vocês

eu preciso de vocês

mas parece que todos morreram

fugiram, não nascem mais poetas?


poetas públicos

poetas de Estado

de terno e gravata

discutindo poesia

na hora do almoço


vejo o palácio antigo

por onde Drummond deve ter escrito

"A Rosa do Povo", e outros

vejo e me sinto só

dentro desse escritório

com olhar-condicionado

que às vezes escangalha


sinto falta daquele tempo

que não vivi

tempo de partido

de homens partidos em dois

poetas/burocratas

redigindo as leis flexíveis da poesia

e fazendo poesia de atos administrativos


devia existir algo no ar

que instigasse esses homens

algum impulso tremendo

alguma poesia

algum claro enigma

alguma libertinagem

algum eu


o tempo devia ser mais amplo

como a arquitetura moderna

do palácio que vejo na janela

o tempo devia fluir sereno

embora para os poetas

essa noção fosse impossível


só há contemporaneidade

os poetas falam no presente

a poesia é no presente


mas sinto saudade nas paredes

vejo fantasmas que aparecem depois

somem, e alguns papéis voando no

vento que o os carros alimentam

vejo os vultos mas eles fogem de mim


é um paradoxo temporal

se eu tocar-lhes

a poesia sofre o risco de desaparecer

assim como cada lambe-lambe

assim como o retrato do Getúlio

o poema-pílula esquecido

em cima da mesa do bar

escrito em guardanapo


não procuro mais a poesia

aprendi com os senhores

procuro os poetas

cadê poetas?

poetas? poetas?


os camelôs estranham

aquele garoto magro e míope

correndo maratona, pulando lixo

e gritando a plenos pulmões:
poetas! poetas!


e mais ali na frente

esbarra num mendigo

que dorme e sonha

com um prato de comida

cai, tomba, aplica o rolamento de judô

quebra o prato do sonho

quebra o aro do óculos


e vê o mundo distorcido

7 comentários:

  1. Cante poeta, suplica!
    Que do lugar eterno
    a nostalgia nos toma
    Faz de conta que é sempre samba

    Somos tolos
    Tantos
    Mas amamos
    com tanta força
    que nem a covardia nos cala a voz...

    Lindo teu canto... ecoe...

    sorrisos de um tempo lindo*

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  2. lindo,Tayo.



    Estamos passando nos blogues amigos para convidá-los a participarem da Blogagem Coletiva sobre “INCLUSÃO SOCIAL” que acontecerá no próximo dia 09/03/2009.

    Ficaremos muito felizes de poder contar com sua participação!
    Se for participar, por gentileza, deixe um recado no blog Esterança.
    http://esteranca.blogspot.com

    Desde já, agradecemos!

    Mari / Ester

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  3. Quero, sim, cantar! há pouco escrevia um artigo sobre o estatuto do trabalho do poeta e lamentava a falta de poetas divulgados hoje em dia... mas cada vez que viajo por blogs como o teu, dou um sorriso de canto, na certeza de que eles se ploriferam, não mais por páginas impressas e caras nas estantes das livrarias, mas em sites de livre iniciativa (e em total liberdade) como o teu!
    Parabéns, visitarei com mais freqüência!
    Jana

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  4. É, meu amigo,... infelizmente, o academicismo, a bajulação, o nepotismo e outras tantas disfunções sociais que trajam de luxo a hipocrisia, ainda são a matéria-prima de muitos falsos 'poetas'.

    mas a verdadeira poesia segue em frente, ainda que desapercebida.

    Grande abraço, POETA!

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  5. obrigado, vocês e suas palavras me estimulam a continuar escrevendo, continuar, continuar

    obrigado

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  6. opa! - essa poesia é do tempo que eu tenho saudede.

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