terça-feira, 19 de maio de 2009

Importância

Todo aquele passado que enfrentarei amanhã me deu insônias anteontem.
Conhecer mais é entender menos. Meu coração está balbuciando uma língua arcaica:
- Omito o mito ou minto muito imito o mito omito o mito...
Hoje meu pai disse que eu estou perdido. Quisera, então, que ele tivesse me achado antes.
Antes havia do que se perder. Pois como pode um toque se perder se já afeto em ele não havia. Vejo naquelas crianças as sementes geneticamente modificadas de um eu que aos poucos não vou sendo.
- O mundo é difícil.
(o pulso animal, quase humano, murmura nas artérias)
Difícil é penetrar nas rochas sólidas que a solidão entre nós juntou. Todo aquele passado que enfrentarei amanhã não tinha me dado insônias hoje. Só nos comunicamos verdadeiramente por metáforas. Só falamos de nós mesmos quando falamos dos outros. Só dizemos a verdade quando mentimos, só choramos quando rimos, só falamos da vida quando falamos da morte. Só falamos do tempo quando falamos...quando silenciamos.
- Isso não é sério.
Precisávamos rir mais ontem e depois de amanhã eu teria rido. Rir é uma forma de gostar sem forma.
- E enquanto isso?
A importância das coisas, dos lugares que fotografou, das mulheres que amou, se esvai no mundo material. Pertence somente ao pó, poeira, florescendo as gramas e reciclando as terras. Esses objetivos, para quem acredita na vida que não tem sentido, não tem sentido.
Enquanto isso eu vejo a eternidade das coisas que não posso ver. A eternidade da música que não escuto. A eternidade suave das palavras de afeto que você nunca irá dizer. A eternidade breve dessa vida.
Enquanto isso eu me procuro. Eu te procuro. Sou eu o perdido?

Procuro-te perdido em mim.

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