Voltando ao assunto do curta "Cotidiano", gostaria de falar mais sobre as filmagens,
principalmente sobre o trabalho de Paulo Betti como ator e André Carvalheira como
diretor de fotografia e câmera.
Bom, como já falei, Paulo deu corpo ao filme. Apesar de ser simples, não haver diálogo,
a ação era baseada em gestos do cotidiano (acordar, ver tv, olhar-se no espelho...), que,
pensando bem, tem a sua dificuldade de atuação: como fazer tudo isso no personagem?
como não ficar uma atuação vazia, afinal, não são simples movimentos mecânicos, mesmo
que o personagem esteja realizando-os mecanicamente: é o personagem que realiza
mecanicamente, não o ator.
A concentração que Paulo Betti apresenta na hora das filmagens também demonstra a sua
grande experiência: onde um ator novato realizaria rápido, nervoso, inquieto, Paulo demorava o
tempo necessário, com uma tranqüilidade veterana.
Outro aspecto legal foi perceber a preocupação dele e o olhar que ele tem para as questões
técnicas de câmera, luz, e como ele sabe se posicionar no quadro e na luz.
Ele também dirige cinema (o filme "Cafundó") e esse olhar de fora da cena que quer entender a luz
e os dispositivos também foi uma surpresa boa no set.
Além de todos esses atributos, temos que destacar o seu bom-humor. Naqueles intervalos de
silêncio da equipe ele soltava:
"Essa arma é de brinquedo né? Olha lá, olha se eu morro numa porra de filme da UFF!"
"O Nelson Pereira contou que sabia exatamente quando tinha terminado de fazer um filme.
Ele dizia: fecha a janela! E a mulher dele: fecha você. Em cinema alguém já teria ido lá e fechado
a janela."
"Agora tá acabando? Qual é o take? É o TAKE MBORA?"
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André Carvalheira é nosso professor de fotografia e de direção de atores da UFF.
Tem cara de muleque, mas já filmou muito, tem muita experiência, saca de artes, estudou na França,
ou seja, está trilhando uma bela carreira.
O seu olhar artístico está presente no filme. Sem ele o filme não seria possível.
Eu e Zeka, que fizemos a sua assistência ganhamos um know-how só de olhar o que ele fazia.
Primeiro, na concepção da luz, podemos perceber o pensamento das 3 luzes:
Ataque/ Difusão/ Contra-luz e Fundo.
Sendo que o ataque foi feito com luzes dicróicas, que nem eu nem Zeka tínhamos experimentado.
Elas são perfeitas para filmagens em apartamento e locações pequenas. São práticas e leves.
Além de não fritar o ator. Funcionam que é uma beleza. Não sei se a galera da UFF as usa, mas
com todos esses "filmes de apartamento" tão comuns da galera de cinema, temos que espalhar essa
dica. Dicróica na vêia!
A luz de fundo ficou bem interessante, feita com um Fresnel com bandeira imitando grade de janela.
Colocando o filtro CTB, ficou aquele azul-noite-na-cidade bem "Sexto Sentido". Ficou bem bonito.
A luz difusa, de preenchimento foi basicamente uma Fotoflood com difusor na frente. Cuidado, desse
jeito ela esquenta muito! Tanto que explodiu no meio da cena e quase deu um enfarte no Paulo Betti.
Tô brincando.
Enfim, só de ficar olhando o André toda hora indo mexer e remexer nas luzes, colocando um pouquinho
pra lá, um pouquinho pra cá, mudando uns centímetros de lugar, olhando no visor, na tv, voltando a mexer,
percebemos o zelo dele com a fotografia, essa arte de pintar com um luz, pois foi isso que ele fez:
pintou com a luz.
Vou postar algumas fotos do set mais tarde, ainda hoje.
Aguardem.
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