sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A Morte dos Gêmeos

Há poucos estrangeiros na Suíça,
é preciso acordar cedo.
Há muito branco no país,
é preciso acordar cedo.
Há na Suíça uma legenda,
que estrangeiros se cortam, simplesmente.

Então lá vai uma estrangeira
acorda de manhã cedinho
para buscar o leite para os gêmeos
em sua barriga

Na rua já se acostumou
aos olhares estranhos
aos pastores alemães
ao frio nos olhos e na
distância dos corpos

Mas nesse dia algo suspeitava o ar
na estação vazia de trem, que neva
- estrangeiro, se corta com estilete
e o grupo a cerca, a cerca, a cerca
acerta-a, erra-a, acerta-a, assepta

Está salva a raça
- Meu Deus, não há Deus, não há culpa
só o suor na face

e das bolsas estilhaçadas
no ladrilho já abortado
o batom, a carteira,
o espelhinho, os gêmeos,
escorre uma coisa espessa,
que é feto, sangue, neve... não sei,

Por entre objetos cortantes
sem redenção nem noite,
duas cores se procuram
dolorosamente se tocam
ásperamente se enlaçam
formando um outro tom
a que chamamos aborto.

3 comentários:

  1. e aborta-se o que ainda restaria de decente na humanidade... belo e contundente o teu poema.

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  2. carlos omura, não, tayo drummond, não...ah sei lá

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  3. A vida é tênue com a neve dos corações.

    Belíssimo poema sobre a vida bandida dos alpes.

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