domingo, 19 de setembro de 2010

Pão Nosso da Poesia

caminhar na beira do abismo
perto do abismo
na ponta dos pés
devagar
olhando o horizonte
se aproximar da distância
percorrer o caminho da distância
que une os fragmentos de nossas vidas
percorrer a caminhada tranquila
correr parado no mesmo lugar de nunca
devagar
e sempre
continuamente percebendo as mudanças
no interior das paisagens
no canto da chuva
continuamente rompendo liberdade
e prendendo-a com algemas quebradas

romper a paralisia com movimento nulo
romper a saudade com memória do futuro
romper o silêncio com um grito mudo
romper o medo com um espelho rompido

enxergar para além do que não se vê
ouvir os sons que vêm das cores das palavras e até do ser

poesia não precisa ser um ato religioso
religar ao Uno
religar ao Todo
religar a Si mesmo

mas é

poesia pra ser verdadeira tem que inventar um Deus
e sê-lo
e crucificá-lo
e carregar a sua cruz
e sentar-se na árvore
e atingir o nirvana
poesia pra dizer algo
tem que calar

para sonhar
tem que acordar

para alcançar
tem que se dar distância

na poesia
o movimento é estar parado
é conscientemente estar inconsciente
e aproveitar somente os erros

para acertar o errado

poesia é estar errado
é torto
é esquerdo
é esqueleto sem forma
e causa sem efeito

será preciso enxergar as ligações entre os seres
a eterna
invisível
infinita

ligaçãoentreumapalavraeoutraassimcomoentreumseredeus

amém

4 comentários:

  1. Sacrossanto poema!
    Larga o cinema, meu querido, vai ser PUETA!

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  2. Surpreende como o senhor sempre arruma um ângulo mais legal pra tirar fotos das palavras, ou um espremedor mais louco pra tirar suco delas, ou uma corda para uni-las ou um machado pra separá-las, ou um liquidificador pra misturá-las, ou um terço pra rezá-las.

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  3. Amém para a poesia! Sempre! É o único que realmente faz sentido...

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