domingo, 26 de setembro de 2010

Processo Criativo - reflexões sobre fazer poesia (ou ser desfeito por elas) - parte 2

Não existe algo como a poesia.
O que existe é a atitude poética sobre o mundo.
Uma atitude poética.
Por atitude poética eu digo um olhar enviesado, uma tentativa-de, um constante alerta para o que não importa, uma constante criação de personagem, e dramatização contraditória do mundo.
O que diferencia um texto qualquer, ou qualquer outra obra de arte, de uma poesia é a atitude poética.
Não é preciso escrever para se ter atitude poética.
Porque ela é o próprio viver em estado alterado pela poesia.
No caso, escrever ajuda e faz a manutenção da atitude poética.
Porque nada é o que parece,
porque "as coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis..."
e outros desaprendizados que o manoel complica melhor.

Será preciso inventar as coisas
será preciso realmente sê-las
para se ter a atitude poética.

Quando a atitude interna transborda
precisa ser liberta em forma de palavra, imagem, sons, gestos, em suma,
imaginação: imagem em ação.

Quando estou dentro de um trem ou ônibus, ou até carro, percebi que estou no cinema:
imagem em ação pela tela da janela. Imagem em movimento,
e eu parado no mesmo lugar de nunca.

Uma das características da poesia, além do barato que ela dá,
é o movimento parado que ela gera dentro da gente.

Estou descrente na política tal qual ela se afirma no cenário atual do Brasil.
Para mim, a atitude poética,
é a única salvação para dar continuidade e desenvolver
a invenção do nosso país

a partir da invenção da vida.

2 comentários:

  1. jodoro fala mil vezes sobre o "ato poetico", quero te mostrar
    agora!
    beijos

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  2. "as coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis..."

    isso é do caralho, no sentido prolífico do termo!

    estar no barato da atitude poética é avesso à funcionalidade, ou a funcionalidade devia virar do avesso para a atitude poética?

    faço medicina e, enquanto falo isso, os livros do Harrison grunhem na minha estante em desacordo, ruminando nomes de anticorpos e parâmetros dimensionais de proteínas sanguíneas...

    esse movimento parado, como cê diz, esse rasgo de vida que abre nossa cabeça e mexe nossos olhos é a "fome de vida" do Gullar em "A vida bate"...pra mim são sinônimos, porque um se confunde no outro.

    me movo por dentro e, logo, quero viver para não parar de me mexer.

    abção cara!

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