Aline - Lendo os teus poemas, a gente fica curioso: de onde vem a poesia?
Taiyo - Pode ser que ela venha dos seres que não somos, mas dos quais não conseguimos fugir. Pode ser.
Aline - É... e você é muitos seres?
Taiyo - Carrego dentro de minha mochila não só livros e cadernos de aula. Guardo também algumas máscaras, que uso dependendo da ocasião social. Outras eu não uso. Outras me usam. Tem uma que é um espelho, é uma máscara no formato do meu rosto, mas é um espelho. Essa eu uso quando quero me mostrar, sabe, coisa de vaidoso mesmo.
Aline - Coisa de quem é de leão, como nós. Diga, você se mostra muito na poesia? Se coloca nela?
Taiyo - Às vezes é como sexo. Eu gosto de ficar por cima das palavras, roçar nelas e variar na metida, pode ser rápido, mas lento também é bom. Eu gosto quando as palavras gozam enquanto estou dentro delas. Elas ficam muito molhadas de mim. E eu delas. Mas com elas por cima também é ótimo. Quando elas cavalgam em cima de mim, tenho vontade de abrir os braços e voar, como Pégaso.
Aline - Hummmm... eu sinto uma coisa meio mítica na sua poesia, por falar nisso.
Taiyo - Deve ser porque, pra mim, a poesia é inventar os seus mitos. E inventar O mito. É contar a sua história e a História pra você. É verdadeiramente um ato mentiroso de encontrar-se com o seus tempos: digo seus por uma razão simples: a desrazão. Isso me lembra Chris Marker, no filme La Jetée, onde o personagem viaja no tempo, pela memória, ou seja: ele vai tanto para o passado quanto para o futuro. temos todos os tempos dentro de nós. temos a memória do futuro. É desse mito que eu falo. É dele que eu bebo.
Aline - Falando em cinema, o que você busca nele? Você é discípulo do meu Jodo?
Taiyo - Sou. Sou discípulo do Jodorowsky no sentido de acreditar no cinema, ter fé nele. Quando o mestre diz que o cinema está doente, e que estamos doentes, está correto. Eu procuro no cinema um remédio para as minhas doenças e para as doenças do mundo. Tem uma que não dá pra curar e nem quero, que é a poesia. Todas as outras doenças podem ser curadas, inclusive e principalmente pelo cinema. A poesia é uma doença que cura... interessante isso.
Aline - E quando que a poesia te infectou?
Taiyo - Acho que foi quando eu li Pessoa.
Aline - Eu gosto de pensar que o nome dele é Fernando Pessoas.
Taiyo - O Gullar disse a mesma coisa. O Pessoa na verdade é Pessoas. Ele tem dentro dele todos os sonhos do mundo. Ser poeta é isso, não caber em si mesmo. A vida não basta.
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Primeira parte do encontro com a artista Aline Barcelos,quando fui entrevistado no ano que vem.
Eu também sou disciplo do Jodo; sou seu excravo, embora ele não saiba.
ResponderExcluirQue sorte, han, Jodo?
ResponderExcluirE que bela entrevista, que final lindo....aliás, a gente não devia nunca mais falar nada porque o GULLAR JÁ DISSE TUDO.
Mas Taiyo! Ainda há aquelas outras perguntas que eu ainda não sei falar em palavras.
ResponderExcluir(risos)
ResponderExcluireu acho que se a gente tivesse gravado a entrevista teria umas duas partes que eu falaria de mim!
(risos)