domingo, 14 de dezembro de 2008

Na Natação do Flamengo

turma "Ão", vai "Eu"!

era assim
sempre assim
cai na piscina e é assim
essa água sobre mim

turma "Ão", o princípio, o verbo anterior ao não:
quando a gente ía, era pra ganhar, o importante era competir mas nos matávamos de pancada se não ganhássemos.

às vezes eles colocavam música debaixo dágua
quando tinha a equipe de nado sincronizado treinando
era legal, porque dá pra ouvir legal a música debaixo dágua
e dá mó gás pra nadar, como se estivesse num filme

a cada braçada uma respiração:
ainda não sabíamos ao certo se aquilo tudo nos levaria a algum lugar
não sabíamos o porquê de estar ali
apenas cumpriamos as normas do colégio

e foi num belo dia que eu fui nadar, coloquei a minha touca vermelha, e peguei meu pull-boy.
na época eu chamava de bodi-bodi.

quando a gente nada parece que está num outro espaço-tempo.

pois eu me vi cercado de tubarões africanos.
com dentes afiados ele corriam atrás de mim.
decidi parar e ver o que acontecia. não tinha medo da morte naquele instante.
foi quando o professor gritou o seu grito: turma "Ão".

eu era da turma "Eis". quando olhei para trás, a turma "Ão". Eram eles os tubarões.

E tudo começou a fazer sentido no meu sonho debaixo dágua.

Correndo contra o tempo,
fazendo o meu lamento,
cada bolinha de respiração errada era na verdade uma paisagem,
uma pura paisagem feita de ar.

Correndo contra a raia,
do outro lado de uma piscina que simulava uma praia,
era na verdade uma corrida contra a corrida:
parei no meio da piscina.

Decidi voltar para a borda. Decidi vestir o roupão e ir embora com o ônibus do colégio.
Dessa vez eu sabia o exato porquê, eu tinha decidido.

E na saída encontrei o Oscar Schmit, aquele jogador de basquete, pedi um autógrafo, mas não tinha onde escrever, tirei o meu tênis e ele assinou ali mesmo, guardei aquele tênis para jogar basquete, acho que depois de um tempo ele ficou gasto, eu cresci, ele não coube mais em mim, minha mãe deve ter dado.

Ao entrar no ônibus da escola, decidi sentar lá atrás, na última cadeira.
Começou a chover. A chuva molhava o vidro, criando uma ilusão de psicodelia no cotidiano comum das ruas do Rio de Janeiro. Isso era bonito de ser ver, poético de se pensar, mas eu não escrevia poesia naquele tempo.
Eu nadava-a.

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