sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Rimas de desintoxicação

ainda com as vibrações da mata
dos lugares que toquei que vivi
descarrego nessa tela que me mata
com a toxidade das letras que escrevi

no planeta da poesia me abasteço
de noite tardo de dia aqueço
o grande óvni feito de palavras
a grande nave-mãe de mágoas

numa ânsia de sofrer o tempo
bordoada de vida na cara
pajelânça de europeu gemendo
feijoada de escargot bem cara

essa poesia vai voar pelas cabeças
vai bater na mente dos loucos
vai fazer sonhar em plenas terças
vai libertar o desejo de ser, ter pouco

uma luta diária contra a mediocridade
nos braços a juventude nos pés a saudade
de ser criança, ser inocente, indecenteidade
quem me dera ser poeta, quem me dera ter idade

a censura desses tempos amplos
a mesura desses templos antros
só me deixa ainda mais raivoso
são milênios de revolta adolescente num poema uivoso, idoso

nas ruínas da sociedade componho música
feita dos barulhos do apocalipse
o que é o poeta senão o eclipse
sempre a ocultar o lado negro da lua

nos jornais o retrato bizzaro de nossa ignorância
no telejornais a violência na esquina dança
nos livros os best-sellers servem de travesseiro
na travessa da lucidez um poeta declama grosseiro:

jogais fora os mapas antigos que a nada conduzem!
jogais agora o jogo da vida que as propagandas reduzem!
jogais o corpo ao vento, dais o amor em cada momento,
em forma de poesia pura!

me agarro nos poetas porque é deles o coração do mundo
e de seu sangue beberei, pulsante e profundo
das profundezas da superfície mais prosaica: sonhar
das estranhezas tão queridas do que está na nossa frente: sonhar
o sonho incessante de amar o que é vivo
o amor onírico de saborear os teus livros
a doçura de deixar livre os ouvidos
para a palavra permanecer em seu estado de criação
em seu estado de puro coração

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