sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Cadernos da adolescência: agosto de 2005

quando sigo teus passos
sempre me perco
quando ouço o que me diz
sempre me engano

faça-me liberdade
arranque de mim essa dúvida
teus cabelos não mentem
embora balancem contra o vento

você só me diz verdades camufladas
em pequenas doses de veneno
nada em você é simples
até teu entristecer gera
interpretações

você é uma comédia-trágica
eu sou um livro aberto em branco
a solidão é um eco chato
batendo na parede dos cômodos
incomoda

cômoda de madeira
perfumes, desodorante, papéis
coisas fúteis

agora, chuva de verão
chovendo forte, cheiro de chuva
de prédio molhado
um pouco de calor
um pouco de frio

se cada pingo tivesse vida
seria uma Humanidade
caindo sobre a cidade
enchendo as ruas de nova gente
tirando um pouco essa solidão

no quarto um ecossistema
de livros, cama, espelho,
armário
um ecossistema morto,
mas que ganha vida com o
meu toque
como mágica que as crianças
já conhecem de outras festas

essa chuva tem vários pontos positivos
une
enclausura
propicia uma gradativa falta de vergonha
quanto ao contato pessoal
nos deixa mais próximos com
vontade de abusar das sensações
com vontade de testar o toque
os sentidos em torpor

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