sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Rei do Paredão

A turma estava voltando de uma excursão. Aquele ônibus lotado de crianças, bagunça, André roubou pão na casa do João, não sabe cabeça de E.T, fofoca, galera de trás, nerds na frente falando com a professora. Tínhamos visitado um museu da H. STERN, uma famosa rede de jóias. Depois de descarregar aquela criançada, como uma boiada entrando no pátio da escola, tive a idéia de criar um jogo. Na verdade adaptar um jogo já existente, criando regras, numa espécie de campeonato, com características próprias. Chamou-se "Rei do Paredão". Para quem não conhece, o paredão é um jogo. É uma arte. Baseado nas antigas técnicas do squash, misturado com noções de tênis, e adaptado para a falta de recursos de um país subdesenvolvido, o Paredão só necessita de uma bola e uma parede. Quica-se a bola, batendo-a na mão, e ela bate na parede e volta a quicar. Quando esse ciclo falha, a pessoa que falhou sai do jogo. Pois então, adaptando esse tão cultuado esporte colegial, concebi um campeonato extenso, duro, difícil. Somente o maioral poderia alcançar o título de "Rei do Paredão". Era uma competição cativante. Logo no começo, quando todos estabeleciam seu lugar na fila (para bater a bola), a emoção já estava a mil: "Primeiro"! "Segundo"! "Último"! "Quarto"! Criou-se uma rivalidade tremenda entre os jogadores mais assíduos do esporte. E cada um tinha a sua habilidade especial, sua arma secreta. Diego tinha a sua "asa de águia", uma jogada dificílima de pegar, onde a bola varava o chão numa altura mínima e velocidade máxima. Eu tinha as famosas "deixadinhas", jogadas desconcertantes, que exigiam a extrema atenção e preparo físico do adversário, pois obrigava-o a literalmente dançar o twist para pegar. E tinha o André. André, por sinal, entrou para a história do Rei do Paredão. No Hall dos Grandes Esportistas do Rei do Paredão, André, definitivamente, está no topo da lista. Foi Rei do Paredão umas 14 vezes. No mínimo. O golpe mortal do André era a "porradona", uma bola que quase caía do outro lado do muro da escola. Penei muitas vezes para pegar. Muitas vezes caí antes. Jogava-se o sangue. Jogava-se com o coração. Partidas emocionantes transformavam a escola, por algumas horas, em estádios olímpicos. Nós, virávamos heróis do esporte, lutávamos contra o nossos próprios limites físicos e psicológicos para desfilar o melhor do paredão para os amigos e pras meninas, é claro. Elas também entravam no jogo. Mas na medida que o bicho ia pegando, inevitavelmente teriam que sair. Não agüentávam as "asas de águias", as "deixadinhas" e principalmente as "porradonas". Suor rolou por aqueles pátios cinzas e azuis. Como um antigo professor de eduação física me falou, antes do treino de basquete: "Nessas paredes, 'glória' se escreve com sangue e suor".

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