quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O dia em que fiquei preso na sala de cima

Era feira de ciências. Aquela agitação, crianças gritando pelos corredores, pátios lotados de experimentos bizzarros, pais em alvoroço. Um vulcão que jorrava tinta com pasta de dente. Maquetes que utilizavam gel de cabelo para simular o mar e lego para fazer pessoas. As mães, orgulhosas, passavam a mão na cabeças de seus prodígios, olha que legal, que bonito! Mas um daqueles meninos não estava com mãe nem pai presentes. Ele tinha um plano. Secreto. Afinal, estávamos em guerra, e a missão não poderia ser descoberta. O risco, morte. Juntou seus mais fiéis espiões: o gordinho, bom para distração dos guardas e inspetores, a bonitinha, boa para própria distração, o inteligente, para resolver problemas logísticos, e ele mesmo, o líder. Tudo teria que ser perfeito. Começaram a subir, um por um, a sala de cima. Um local tenebroso, abandonado, pelo menos naquele dia. De lá, os espiões articulariam o plano, a missão. Mas agora, o importante era conseguir chegar até a sala de cima. Precisariam passar por dois inspetores. Um em cada acesso. Não foi fácil. O gordinho funcionou bem, conseguindo abrir caminho para o inteligente e o líder. Do outro lado, com toda a sua malícia, a bonitinha malandramente conseguiu esperar o momento certo de subir. E lá estavam todos. Pera aí. Faltava o gordinho. Ah! Sempre ele, tinha que ser ele, ao mesmo tempo a peça chave e a peça que quebra a engrenagem secreta daquele grupo! Somente depois de alguns minutos, enquanto o restante do grupo, já na sala de cima, esperava ansioso, o gordinho, com a última de suas táticas, simulou o princípio de uma briga entre o cara novo da turma e o cara que bate em todo mundo. Conseguiu subir. Mal ele sabia que, no exato momento que subia aquelas escadas, foi visto de relance pela outra inspetora, do outro acesso. Chegando lá em cima, a glória. O gordinho estava vivo! Estava vivo! O clima de euforia tomou conta do ambiente. A sala de cima estava conquistada, pronta para o início da nova missão, tão secreta que nem o líder sabia. Corações a mil, ainda fazendo o reconhecimento tático da sala de cima, um estrondo violento vem da porta: PAHH!!! Que bonito ein! Vocês querem ficar ai, pois então fiquem!!! PAHH!!! Trancados. Estavam trancados. Foram pegos! A missão! A missão! O gordinho começa a ter um ataque de asma. A bonitinha é a única, consegue escapar antes que a inspetora fechasse a porta. Estavam lá, o gordinho, o inteligente, e o líder. Buscando desesperadamente um lugar para sair dali, o líder abriu a janela, não, não dava, era telhado, muito alto arriscado, a asma do gordinho aumentando. Enquanto isso o inteligente, sentado na cadeira do professor, com a mão no queixo, pensava. Não havia jeito de sair dali. Essa foi a sua conclusão final. Estavam presos, encurralados, para sempre. O grupo foi descoberto, a missão abortada. Era o fim. O fim de um grupo. O fim de um tempo. O fim da infância.

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