segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ouvindo Mozart

Por entre as escadarias dos palácios
que existem dentro da gente, coração em formato de espiral
escuto as vozes de teus sonhos, trombetas retumbantes refazendo as arquiteturas
cada silêncio é preenchido pela vontade de conhecer Deus
de entender Deus, e a música

toma conta do meu sangue, alquimizado em paredes pintadas
pinturas sacras, sorrisos profanos, simbolismo barroco

o movimento dos corpos no salão, é uma dança, um ritual
de tempos remotos, antes da Humanidade, antes dos animais
mitos da civilização ocidental, que me contaram enquanto eu dormia

eu assisti o paraíso cair da Terra, na terra prometida
os olhos de fogo do último marujo ao avistar a América
os olhos de sono do mágico que encantou as caravelas
os olhos de ouro dos reis de outrora
a aurora que veio aos céus quando Zeus descobriu que estava só
entre as sombras do Olimpo

Numa missa bárbara,
os cantos se misturam com o barulho da vida lá fora
crianças vestidas de anjos, penduradas por cordas de madeira retorcida
voam pela Igreja de algum lugar de Viena

enquanto no Brasil algum índio se converte ao catolicismo

uma cruz, uma espada, um coração

Arrependa-se agora e estará salvo, a majestade o perdoará.

Mas por que? Por que te procuro nas paredes da civilização?
Tu que me procuras na parede da barbárie, tu que me seduz a escutar o cântico dos pássaros alados, dos aliados, dos prados, das pradarias da Musa

Tu que me acordas de noite, em plena madrugada, outros planetas, melodias do céu, anjos e demônios, pela noite adentro

Sonhos cósmicos

Por todos as melodias de Minas Gerais, cidades de ouro, lembranças barrocas
cabeças rolantes, república, vontade do novo, coroa real, prata, bandejas de prata

A voz dos anjos desceu aos céus e contou segredos de Deus, segredos da criação, para os homens que souberam ouvir, as promessas, futuros, a esperança da vida nova, a vitória sobre a morte

Sua majestade subiu as escadarias da memória e do futuro para conquistar as paredes do presente.

Corações em uma única nota, ressoando infinitamente dentro do mundo.

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